segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Triforce


Os seus familiares podem falhar, as pessoas em quem você confia, a estrutura debaixo dos seus pés pode ruir. Isso pode acontecer, com ou sem sinais claros. É importante saber que certas bases que um dia nos apoiaram não são bases que garantidamente poderão nos apoiar sempre. É possível usufruir de comodidade e de riqueza no seio da sua família, as vezes sim, mas como poder manter a constância de tais recursos?

Faz da reflexão um estado constante, não seja demasiadamente simplório, tão pouco demasiadamente complicado, boa medida é praticidade, nada raso, fundo na medida certa. Nem toda abstração é válida, por isso faz-se necessário não apenas refletir, mas ler.

Quando me refiro a leitura não me refiro apenas a livros, falo além, do habito de ler em volta, o observar reflexivo, te veste disso, pondera o valor daquilo a que dedica seus olhos, porém não esqueça do peso do silêncio.
O silêncio é um peso bom, te ajuda a refletir e ler sem distorções, o barulho da língua é perigosamente caótico e desequilibrador, foge dele, ponderando demoradamente cada palavra, aplica filtros se necessário.

Por isso digo, firma uma de tuas bases em silêncio, leitura, e reflexão, te servirão melhor que berço, te protegerão melhor que abrigo, te sustentarão melhor que riquezas.

Teus amores vão te trair, tuas paixões te condenar, amigos hão de desamparar-te, o carinho por muito te prenderá não apenas pelos tornozelos, e o receio de perder cada doce partícula vai travar teu caminho, seu corpo correrá contra a direção da prudência, mas a disciplina não precisa te trair.

Faz da disciplina teu amor, tua paixão, tua amiga, dedica-se a ela como noivo loucamente apaixonado, quando todos falharem ela irá te suprir. Faça-se servo e mestre, dorme e acorda em disciplina, aprende nela o prazer dela, apega-se pois a ela e a mais nada, nem ninguém.

Acaricia demoradamente o desapego a tudo, pois tudo o que conheces logo será pó. E as lembranças daquilo que fez e viveu, por mais que lutem, pó também serão. Portanto se apegar é loucura, assim como temer em demasia.

Tal qual um artesão talha a madeira sem medo da dor da madeira, não teme talhar o que estiver a seu alcance em busca da melhor forma. Somos tão pequenos e efêmeros que diante de nós tudo é abundante e passageiro, e observe que não há o que temer.

O medo é bom diante das feras, é bom diante da necessidade de correr para sobreviver, te faz pular mais alto, te fazer correr mais rápido, multiplica teus pulmões e adormece a dor dos seus músculos machucados. Fora disso, toma muito cuidado com o temor, tende a ser mais perigoso do que suas motivações em existir.

Por isso digo, firma uma de tuas bases em desapego, destemor, disciplina, te servirão melhor que amores, paixões e amigos, te sustentarão melhor que riquezas.

Por último, tua estrutura é carne, cedo ou tarde falhará. Enquanto tens tempo, no entanto, usa da melhor forma essa carne que tens. Não falo pelo amanhã, seu fardo será apodrecer, falo pelo hoje. Mais importante do que teu trabalho, teus amigos, ou tuas bases, é o teu corpo em si.

Por isso digo, não despreza o bom sono, a boa alimentação, e as boas práticas físicas. Não há razão para aplicar-se a nenhuma das bases anteriores sem ter essa base firmada, seria como uma tripulação em alto mar sem nenhuma embarcação.     

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sobredores


Cara, eu não costumo gostar muito de falar sobre dor. Mas outro dia uma garota me olhou e disse: "Você parece muito machucado." revisitando esse blog entregue as traças, com o perdão das traças, reouvindo uma música que postei aqui... Acho que é um fato, eu realmente sofri bastante. Acontece que todo mundo sofre e não acredito que devemos acariciar nossas dores. Por isso esse post não é sobre dor. É, sim, sobre o apesar das dores. Como não podemos falar sobre o apesar das dores sem falar das dores, de repente eu fale um pouquinho sobre dor, sobre perda, sobre sofrimento.


Não quero contar cicatrizes, não se trata disso, perto de algumas pessoas bem próximas a minha vida foi até bem tranquila, eu nunca passei fome, nunca fiquei sem ter onde morar. Pessoas vieram, outras se foram pra sempre, gente deixou de existir depois de muito lutar, as estruturas sempre se modificaram, as coisas mudaram de lugar, mas e aí, posso reclamar? Não. Eu reclamo, as vezes, como um garoto mimado que não deixei de ser, mas, poder mesmo... no sentindo de ter o direito de reclamar, não acredito que eu tenha esse direito. Por isso evito reclames.


Essa gente que reclama muito estima demais a felicidade e demoniza demasiadamente a tristeza. Não apenas estimam demais a felicidade, como projetam uma felicidade que não existe, a buscam, obviamente não encontram, e se entregam a uma suposta tristeza irremediável, a qual cultuam como fervorosos fiéis de uma religião maluca. Sério, você acredita mesmo que a vida se resume a fugir da tristeza e correr atrás da felicidade? Acho que não.


Sei que algumas pessoas amargam dores profundas das quais gostariam muito de se livrar, mas não são capazes, sei que isso é real e sério, mas o que eu mais vejo é gente se doendo de barriga cheia! E sabe como eu chamo isso? Comodismo. Bancar o coitado sofrido te livra de encarar seus problemas com a postura de agente de mudança, saca? Bem, também não é sobre isso que eu vim falar.


Eu sofri sim, essas coisas imponderáveis da vida já me deram tijoladas na cabeça, e também já colhi alguns amargos frutinhos da minha própria indisciplina. Nada saboroso, acredite. Mas putz(!), não dá pra comparar aos bons sabores... e olha, que eu nem sou um cara viajado, apenas olho em volta. fiquei pensando sobre o que a garota falou... Machucado, eu? Tô não. Tô sussa...