Fazia sol no meu
caminho, e a Bruna me trazia água. Eu ligava, ela descia. Era uma
jovem Bruna, jovem e boba Bruna. Eu não pensava a respeito de muita
coisa naqueles momentos, apenas me refrescava. Deixava o tempo correr
um pouco mais solto, como quem abre um pouco mais uma torneira. Bruna
falava sobre seu namorado, e sobre coisas leves da vida, e sorria, e
se balançava. Eu ria.
Num desses dias passou
um carro, dirigido por uma mulher, e parou antes de passar. Era a mãe
da Bruna. Eu olhei sem olhar, sorri sem sorrir e acenei sem acenar.
Não teve significado nenhum aquele momento. Eu não sabia o que
viria, nem a Bruna, nem a mãe da Bruna. Tão pouco sabíamos quando.
O curso da vida muda como um tijolo arremessado contra a sua cabeça.
Enquanto eu pensava no
Griffin, personagem do “MIB3” que aparentemente enxerga toda a
historia nas suas infinitas possibilidades, lembrei desse momento.
Não foi a última vez que eu vi a mãe da Bruna. Foi a primeira. Se
eu fosse o Griffin, se eu fosse amigo do Griffin, se ele estivesse
ali, talvez eu tivesse dado um pouco mais de atenção. Talvez eu
pudesse fazer algo diferente.
Estranho um filme tão
bobo ter um personagem tão profundo. A última vez que eu vi a
mulher que dirigia aquele carro ela arregalava os olhos, e quase dava
pra ver seu cérebro lutando para reconstruir cada caminho. As
conexões caóticas gerando novos sentidos, buscando novas rotas,
contornando o dano.
Talvez eu devesse ser
mais presente na vida da moça sorridente que me servia água. Nosso
caminho sempre se cruza assim, leve, breve, e carinhosamente sincero.
Muita gente considera boba a pessoa que sorri e abraça quando a vida
parece correr doce e fácil. Os mais carrancudos podem dizer “é
fácil assim quando tudo é fácil”.
Diante de tantas
dificuldades, os sorrisos e o abraços de Bruna só se mostraram mais
sinceros, com todo peso e toda a dor coexistindo ao redor. Eu quase
concordo um pouco com quem afirma que alegria em demasia é fruto de
distorção. Mais eu acredito mais no sorriso e no olhar vívido da
Bruna do que nas abundantes lagrimas de muitos.
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